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Bikepacking - Quando um projeto se torna realidade

Existem muitas coisas que eu gosto de fazer, mas duas que eu amo muito são pedalar e acampar. Comecei a acampar com uns 10 anos de idade, junto com meu pai e meus tios, e desde a primeira vez eu adorei. 

Já pedalar foi uma relação um pouco diferente... eu tive bicicleta apenas quando era criança e não dava muita bola para ela, por isso, pedalei muito pouco na minha infância. Minha vontade de andar de bicicleta começou em 2012, quando eu tinha 20 anos. Nessa época eu assistia vários vídeos de bike no youtube e ficava pensando em comprar uma bike. Mas a primeira bike eu comprei apenas 2 anos depois, em 2014. 

Nunca vou esquecer da cena de quando cheguei na loja Bike Speck. Na época a loja era atrás da casa do dono e era bem pequena, mas a vibe do lugar era incrível. Quando cheguei la pela primeira vez não acreditei que naquele lugar eram vendidas bikes de marcas consagradas como Specialized e Scott. Na hora até pensei que era uma loja de bikes mais simples, mas eu estava enganado... quando eu entrei na loja meus olhos devem ter até brilhado ao ver as bikes mais top das duas marcas. 

Depois de conversar um pouco com o Speck ele me mostrou algumas bikes, eu andei com elas no pátio da casa dele e escolhi a minha. Alguns dias depois voltei na loja e do lado de fora tinha 5 bikes full-suspension da Specialized e eu curioso pedi para o Speck se era fácil vender aquele tipo de bike e a resposta dele me surpeendeu. 

"Essas são as bikes que mais vendem... daqui a um ano você vai estar comprando uma também..." 

E não e que ele estava certo? A única diferença é que eu comprei minha primeira full-suspension apenas 8 meses depois dessa conversa e foi nesse momento que a diversão começou.

Eu decidi trocar a minha hardtrail por uma full-suspension depois de participar de uma prova de mountain bike que possuía algumas trilhas incluídas no trajeto. Eu lembro que naquela época o Enduro e All Mountain estavam começando a serem inseridos no Brasil.

Pegar a full-suspension foi a melhor coisa que eu poderia ter feito. Depois que peguei ela comecei a andar com uma galera que fazia trilha e pedalava apenas por diversão. Conheci muitos lugares, fiz muitas trilhas e também muitas amizades nessa época. 

O tempo foi passando e começou a aparecer as primeiras fatbikes no Brasil, e por causa delas eu conheci o bikepacking, um estilo de ciclo turismo onde os alforjes são substituídos por bolsas especificas que são colocadas no quadro, guidão e canote da bike. Passei muito tempo lendo matérias no site bikepacking.com, vendo vídeos na internet e sonhando em um dia fazer um bikepacking. 

Essa ideia ficou parada por um ano e durante esse tempo eu troquei mais uma vez de bike. Dessa vez estava decidido a pegar uma fatbike, mas após algumas visitas a loja do Speck acabei pegando outra full-suspension, dessa vez especifica para enduro. 

Mesmo com ela a ideia de fazer o bikepacking ainda continuava na minha cabeça. Eu tinha tudo planejado, só precisava de um companheiro para fazer o pedal. E foi na quarta-feira, 22 de junho de 2016 quando eu estava conversando com meu amigo Joi e de bobeira falei pra ele dessa ideia que surgiu a resposta que eu menos estava esperando.

"Bora, to dentro, quando vamos fazer?"

Quando temos amigos desse tipo, que topam certas loucuras a diversão sempre estara garantida. Decidimos fazer o pedal no final de semana que estava pra vir. Passei a lista de coisas que ele precisava levar, compramos a comida, montei o trajeto e passei ele pro gps e no sábado as 7h da manhã saímos para nosso primeiro bikepacking. O que eu não sabia ainda era como esse pedal iria repercutir entre nossos amigos e acabar motivando eles a fazerem também.
O bikepacking tem como proposta explorar lugares mais selvagens, nos EUA é comum ser feito dentro de parques onde existem apenas singletracks. Na minha região não temos essa opção, o máximo que temos são algumas trilhas que ligam dois lugares. Esse é um dos poucos motivos que me faz querer viajar para os EUA. 

Por causa disso, quando eu criei a rota tentei juntar o máximo de trilhas que eu consegui, e o máximo de morros para subir. Já que não tem muita trilha, vamos subir morro. Nosso trajeto passou por três cidades, Rio dos Cedros, Doutor Pedrinho e Benedito Novo. Apesar de serem cidades próximas de onde moramos, muitos lugares por onde passamos eram novos para nós.
O trajeto tinha 105 km e você deve estar pensando: mas 105 km dá para fazer num dia. Sim, é possível, mas nós estávamos pedalando sem pressa, curtindo o visual e queríamos acampar, então o trajeto precisava ser feito em dois dias.
O local escolhido para acampar foi na Região dos lagos, na cidade de Rio dos Cedros, mesma cidade que eu morro. Chegamos no local definido após pedalarmos uns 45 km. Quando chegamos lá havia 2 casais de Blumenau acampados. Conversamos um pouco e fomos montar nossa barraca. Após jantarmos nos reunimos com eles para conversar mais um pouco e depois fomos dormir. 
Como era inverno estava bem frio a noite, e eu consegui dormir apenas algumas horas, mas não direto, pois acordei algumas vezes durante a noite. Acordamos no domingo as 7h da manhã, tomamos café, desmontamos nossa barraca, nos despedimos dos dois casais e partimos para o último dia de pedal. Nesse dia, 70% do trajeto era novo para nós, ou seja, foi nesse dia que tivemos mais perrengues.

Quando montei o trajeto decidi passar por uma trilha que ligava a Região dos Lagos a Doutor Pedrinho, mas eu fiz o desenho pelo Google Earth, ou seja, eu não sabia o que iria encontrar pelo caminho. Quando chegamos no lugar onde começava a trilha a primeira surpresa, tinha um portão com uma placa de entrada proibida. Como bons aventureiros pulamos o portão e fomos o mais rápido que conseguimos para dentro da trilha para que ninguém visse a gente. 

A trilha era uma mistura de grama, lama e morro. Em alguns trechos era pedalável, mas em outros tínhamos que empurrar as bikes. Nessa hora o segundo perrengue... calculamos errado a quantidade de comida e já estávamos com fome e quase sem comida, e ainda tinha uns 30 km para pedalar até chegar no lugar onde iríamos parar para comer. 

Pegamos a comida que ainda estava nas mochilas: meia linguiça e 4 barras de cereal, dividimos, comemos e continuamos empurrando as bikes. Empurramos por mais uns 2km até que era possível pedalar novamente. 

Depois de um tempo pedalando encontramos outro portão, pulamos ela e continuamos o trajeto. Pouco tempo depois estávamos dentro de uma mina, onde era retirado argila. Saímos da mina e para nossa alegria começamos a descer e chegamos em Doutor Pedrinho. 
A ideia original era parar apenas em Benedito Novo para comer, mas como ainda estávamos com fome decidimos parar no primeiro bar que encontrássemos aberto. O problema foi encontrar um bar aberto... demorou um pouco, mas encontramos um. Comemos 2 pães com bolinho cada um e seguimos nosso caminho. 

Perto do meio dia começou a ficar quente, mas muito quente, mesmo sendo inverno estava quente para pedalar e no ultimo morro acabei sofrendo um pouco, mas conforme estávamos chegando ao final do pedal fui ficando melhor. Terminamos o pedal perto das 15h, felizes com a primeira experiência e já com idéias para os próximos bikepackings.

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